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10 abril 2011

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O teste do pezinho - Por Geraldo Medeiros - Médico

O Essencial para o futuro do bebê.
Todos nós sabemos a ansiedade que cerca o nascimento do primeiro filho. No caso de ser o primeiro neto, a expectativa é multiplicada por quatro, sem contar os futuros tios e tias, amigos e conhecidos. A futura mamãe faz o pré-natal adequadamente, segue todas as recomendações do obstetra, controla o seu peso, "vê" o bebê na ultra-sonografia, a qual é mostrada aos amigos com orgulho, e muitas vezes já sabe se é menino ou menina, embora alguns casais deixem esta surpresa para o dia do nascimento.

Nascido o robusto neonato muitas famílias coletam o sangue do cordão, pois nunca se sabe o que o futuro nos aguarda. O pediatra examina a criança, tudo parece estar perfeito, dentro do esperado, a mãe já leva a criança ao peito e uma nova vida se inicia com o debate de como irá se chamar o herdeiro (a). Já no terceiro dia de vida o pediatra ou a enfermagem menciona que será necessário realizar o "Teste do Pezinho". A mãe se sobressalta e pergunta "mas ele(a) tem algum defeito no pé?". Nada disso. O Teste do Pezinho é o nome popular pelo qual umas gotículas de sangue são coletadas do calcanhar do recém-nascido, colocadas e absorvidas em um papel "grosso" especial para análise de hormônios, substâncias químicas, hemoglobina, no sentido de se verificar se o recém-nascido é portador de alguma doença de cunho genético, isto é, hereditário.

A ideia de fazer o Teste do Pezinho.
Os pediatras conheciam o fato de que uma criança entre cada 3000 nascidas vivas poderia ter doença genética afetando a tireoide (HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO) ou o metabolismo de um aminoácido, a fenilalanina, causando a Fenilcetonúria. As consequências da falta de diagnóstico de ambas enfermidades metabólicas têm um desfecho trágico: a criança não consegue maturar o seu sistema nervoso central e pode ficar com rebaixamento mental irreversível, isto é, com nível de inteligência muito baixo, dificuldade de falar, às vezes com problemas de surdez e crescimento somático retardado (não cresce, fica "baixinha" para a idade). Nada disso acontece quando o diagnóstico é realizado logo nas primeiras semanas de vida e a criança toma o remédio (um comprimido) que lhe permite desenvolver-se normalmente e atingir maturidade normal do sistema nervoso central.
A dificuldade está em fazer o diagnóstico no recém nascido, logo nas 4 primeiras semanas de vida. São poucos os sinais e sintomas que caracterizam a falta de tireoide no neonato. Criança muito quieta, que quase não chora, apresenta perigo de "ficar amarelinha" (icterícia), hérnia do umbigo, não consegue sugar o leite materno, etc. Embora o conjunto dos sintomas permita o diagnóstico, os médicos pediatras, retrospectivamente, notavam que só após o 3° ao 6° mês de vida é que se descobria que a criança estava com "falta de tireóide". Muito tarde, e já algumas anormalidades cerebrais seguramente já estariam presentes sob forma irreversível.
Em 1974 um médico canadense, Dr. Jean Dussault, introduziu a possibilidade de dosar hormônios da tireoide em uma gota de sangue absorvida em papel. Esta metodologia permite que a gota de sangue absorvida no papel permaneça estável, não se degradando, e torna possível enviar ao laboratório milhares destas amostras, pelo correio, sem necessidade de resfriamento.

O teste do pezinho torna-se uma realidade

O Dr. Dussault testou 250 mil crianças nascidas no Canadá e detectou cerca de 600 casos de crianças com defeito na tireoide as quais foram prontamente tratados e são totalmente normais com o comprimido diário de L-Tiroxina. No Brasil o Dr. Benjamin Schmidt, na APAE - São Paulo, começou o teste do pezinho com o papel de filtro em 1974 e hoje a APAE é um dos Centros mais eficientes e de maior experiência na detecção de doenças neonatais.
O Programa Nacional de Triagem Neo-Natal (PNTN)
Foi durante a gestão de José Serra no comando do Ministério da Saúde que se criou, organizou e deu a "maior força" para que as 3,5 milhões de crianças nascidas vivas no Brasil tivessem acesso ao "Teste do Pezinho". Em cada Estado formaram-se núcleos de atendimento ao recém-nascido com laboratório, equipe médica, assistente social, todas estas pessoas chefiadas por uma coordenadoria treinada e eficiente.
O objetivo maior seria de fazer o teste do pezinho acessível aos neonatos brasileiros. Somente para fins de comparação no ano de 2000 menos de 50% de nossas crianças faziam este teste. Em 2006 atingimos 81,6% das crianças, o que já é um grande feito. No entanto é preciso melhorar as nossas estatísticas. Somente metade das coletas do teste do pezinho se efetua até o 7° dia de vida (o que é recomendado).
Mais de 50% das crianças são submetidas ao teste na 2ª até a 4ª semana pós- parto, o que é muito tardio. Além disso, o início de tratamento, em média, está longe do ideal, pois se efetua ao redor de 43 dias (quando o ideal seria menos de 30 dias). Alguns estados são campeões na organização e na eficiência do Teste do Pezinho como Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. O mais importante, contudo, é que, periodicamente, os responsáveis pelo Teste do Pezinho se reúnam para debater os seus problemas regionais e dificuldades para localizar a criança que necessita tratamento. É fácil de prever que na imensidão da Amazônia, sem muitos meios de comunicação, a assistente social irá ter dificuldade em localizar uma criança, com mau funcionamento na tireoide e que precisa ser tratada.
O mesmo ocorre em Estados do Nordeste. Mas com o apoio da população, com o conhecimento cada vez maior da importância do Teste do Pezinho teremos, em breve, a quase totalidade de nossas crianças testadas, e, se for o caso, tratadas com êxito, evitando-se sequelas irreversíveis.

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